Família Reencontra Filho Desaparecido há 11 Anos

Família Reencontra Filho Desaparecido há 11 Anos

Um abraço longo e apertado, lágrimas e paz no coração, marcaram o reencontro da Família Medeiros em São João da Ponte.

Tudo que é novo provoca nas pessoas um sentimento de inquietação. Há algumas semanas apareceu na pacata cidade de São João da Ponte - Estado de Minas Gerais, um andarilho de estatura mediana, magro, barbudo, olhos pequenos, pele castigada pelo sol e pelo sofrimento. Carregava consigo um saco que chamava atenção de todos moradores. Para alguns, poderia ser um ladrão, para outros, um velho perdido.

Como em qualquer outra cidade de pequeno porte, os pontenses são hospitaleiros e generosos, e isso fez com que ajudassem este andarilho, oferecendo comida, café, dinheiro e até mesmo estadia para pernoitar. Mesmo sendo um ser estranho, as pessoas não se intimidavam, em alguns casos, até conversavam com ele sobre sua andança e sua vida. 

Através das mensagens levadas pelo “boca-a-boca”, o Secretário de Recursos Humanos e Administração, Hudson Aparecido Almeida, soube que o andarilho precisaria de ajuda para voltar pra casa. Então, o mesmo acionou a equipe do CREAS (Centro de Referência da Assistência Social), mas precisamente, a Assistente Social, Beatriz Cardoso Silva, que juntamente com o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e CRAS de Iguatu, cidade do Estado do Ceará, buscou informações sobre o andarilho e promoveu o reencontro dele com a família.

Este Reencontro

Ocorreu neste sábado (02/09), e findou o sofrimento da Família Medeiros que não via Francisco Medeiros da Silva (52 anos) há 11 anos. O reencontro aconteceu em São João da Ponte, graças aos esforços da administração “Tempo de Reconstruir” através do CREAS, CRAS e CAPS e Guarda Municipal. A investigação durou aproximadamente um mês, até que a família de Francisco fosse localizada.

Tudo começou em 19 de agosto de 2006 em Iguapu, cidade do Estado do Ceará, quando Francisco Medeiros, filho de Raimunda Medeiros e Elias Bezerra saiu de casa e nunca mais voltou. O motivo, ninguém sabe. O que se sabe é que o vazio perdurou por longínquos 11 anos. Desde então, a família tem procurado em todos os lugares, até mesmo na Cracolândia localizada na Capital Paulista. Foram anos de buscas e decepções.

O desfecho desta história terminou em São João da Ponte, cidade que a família de Francisco nem sabia que existia. Estiveram na cidade, a irmã, Maria Medeiros Paulino, a tia, Josefa Medeiros, o sobrinho, Elias Medeiros e o cunhado, Francisco Paulino. Foram 1900 quilômetros até chegarem a Francisco.

Segundo a irmã de Francisco, Maria Medeiros "não é a primeira vez que ele some, a primeira vez que ele desapareceu, ficou 08 meses fora de casa, mas desta vez, já estávamos quase perdendo as esperanças. Foi muito sofrimento para família, procuramos em todos os lugares, até na Cracolândia. As nossas forças estavam por um triz, mas Deus sabe o momento certo de agir na vida das pessoas. Sentimos eternamente agradecidos por todos desta cidade, principalmente ao CREAS, CAPS e pela prefeitura ter nos ajudado neste reencontro”, diz a irmã. 

A "ponte" feita entre CREAS de São João da Ponte e CRAS de Iguatu proporcionou este emocionante reencontro. Através das conversas entre as Assistentes Sociais Beatriz Cardoso e Francisca Larise, foram realizadas estratégias para que o sucesso viesse á tona. Para a Assistente Social, Beatriz Cardoso, o processo de reencontro de Francisco com a família mostra o quanto é importante o trabalho de um equipe unida e responsável. ”Fazemos um trabalho com carinho e dedicação.Sinto-me realizada, pois é de grande importância o vínculo familiar. Agradeço ao Secretário de Assistência Social, Hudson Almeida, à equipe do CAPS no nome de Eliane e a guarda municipal e toda a família do CREAS pelo apoio”, diz emocionada a Assistente. 

É importante ressaltar que por trás de uma barba e cabelos grandes, roupas sujas, aparênciade mendigo, existia um senhor com transtorno mental que se perdeu da família. E isso, poucos enxergavam, viam um andarilho qualquer. “É obrigação do CAPS dar assistência a essas pessoas e foi que fizemos. Com o apoio das equipes CREAS, Guarda Municipal e Assistência Social que foi possível encontrar a família de Francisco, e assim pode retornar ao convívio família”, diz a coordenadora do CAPS, Eliane Rodrigues. 

Todo dia é “Tempo de Reconstruir” novos laços afetivos e fortalecer os laços familiares. Jamais se deve desistir de uma caminhada ou de uma luta, pois nunca sabemos o que nos esperar da outra margem de uma ponte.

Tome Nota 

No caso de pessoas desaparecidas é importante que se faça o boletim de ocorrência na Policia Militar ou ligar no 190. Um amigo, um pai, uma mãe ou um amigo perdido no meio da multidão trás dor ao coração e incerteza na alma. Qualquer um se sente impotente e perdido sem saber por onde começar. Surge o desespero da família, a dor no coração dos pais e a apreensão de amigos. O que fazer? Por onde começar e quais os caminhos oficiais? Quando alguém desaparece o que devemos fazer? 

Assim que se perceber uma mudança de rotina, ou após tentativas de conseguir contato com a pessoa em questão e perguntar a parentes, amigos, namorados, vizinhos, etc., os familiares devem procurar o Departamento de Polícia mais próximo para formalizar o desaparecimento.

Existe um mito de que é preciso esperar 24h, 48h para comunicar o desaparecimento. Não é necessário. O comunicado deve ser imediato. Leve foto atual da pessoa e algum comprovante de residência. Não se pode esperar, tome uma atitude diante da situação.

Gilmar Pereira – Jornalista e escritor